O Conexões Universidade recebeu nesta sexta-feira, 5/04, alunos de Comunicação, Antropologia e Psicologia no auditório da ECO-UFRJ, e outros profissionais que se inscreveram pelo site da Universidade das Culturas, no campus da Urca, zona sul do Rio de Janeiro. Os universitários assistiram o primeiro episódio de “Paixão Bandida”, que apresentou a história de Daniela Pereira da Silva, que junto com Dra. Maíra Fernandes conversou com o público sobre o programa do AfroReggae, exibido no GNT e sobre as condições atuais das mulheres que se envolvem com o crime e cumprem pena no sistema penitenciário. A mesa foi mediada por Cristina do Rego Monteiro, professora adjunta do Departamento de Expressão e Linguagens e Coordenadora Geral da Central de Produção Multimídia da ECO-UFRJ.
Daniela Pereira da Silva, protagonista do primeiro episódio de Paixão Bandida, é filha de militar e de família de classe média de Copacabana. Dani passou a infância e adolescência na zona sul do Rio de Janeiro e sempre foi a melhor aluna da classe. Sua vida deu uma reviravolta quando se apaixonou, ainda menor de idade, por Juninho. Só pouco tempo depois ela descobriu que ele era um dos chefes do tráfico do Morro Cerro Corá, no Cosme Velho, bairro também da Zona Sul do Rio. Hoje, Daniela é coordenadora junto com João Paulo do projeto Empregabilidade do AfroReggae no Rio de Janeiro. Dani contou aos alunos o que viveu dentro do sistema penitenciário e como preencheu seu tempo procurando sempre estudar e trabalhar, não apenas para reduzir sua pena, mas para também poder ter uma nova vida ao sair da prisão:
“Nem todos os presídios têm trabalho ou escolas para os presos, mas quando existe, temos que aproveitar pois isso será muito útil na nossa reinserção ao mercado de trabalho e para nossa volta à sociedade. Eu sempre procurei alguma coisa útil para fazer, tentando trabalhar, estudar, ir à Biblioteca… Sem escola e trabalho é muito difícil o retorno”.
Daniela explicou sobre o trabalho do Empregabilidade:
“O projeto Empregabilidade tem desde que foi criado em 2008, ajudado a muitas pessoas que passaram pelo tráfico ou cometeram outras crimes a retornarem ao convívio da sociedade, reinserindo-os ao mercado formal de trabalho e para isso é necessária a parceria com várias empresas. Nós fazemos todo o acompanhamento desde a seleção até o dia a dia nas empresas. Ainda existe muito preconceito mas estamos quebrando isso”
Dani também falou de esperança:
“Espero que um dia, tenhamos mais escolas, mais oportunidades para que possamos diminuir o número de cadeias e presídios. Eu tenho esperança de um mundo melhor e quero que meu exemplo sirva para que outras meninas não se iludam e não entrem no crime como eu entrei. Que o que passei possa servir de reflexão para as pessoas” - completa Dani.
Dra. Maíra Fernandes, advogada criminal, é a primeira presidente mulher do Conselho Penitenciário do Estado do Rio de Janeiro, sócia do Escritório Técio Lins e Silva, Ilídio Moura & Advogados Associados, tornou-se parceira do AfroReggae desde 2006 e desde então tem estado lado a lado da instituição em muitos momentos importantes, como no projeto Empregabilidade, onde acompanha diretamente os casos que necessitam de assistência jurídica.
Dra. Maíra fez uma análise do sistema penitenciário atual e do que precisa mudar:
“O Sistema Penitenciário Brasileiro não está preparado para o aumento assustador do número de mulheres presas e para as especificidades desse encarceramento. Nos últimos 12 anos, a população carcerária feminina aumentou em mais de 200%, mas a maior parte das unidades prisionais foi pensada para acomodar presos homens, e não mulheres. Poucas são as que possuem creches, berçários, atendimento médico-ginecológico regular etc. A ausência de políticas públicas para mulheres encarceradas piora, significativamente, esse quadro desalentador”.
“Jogadas em verdadeiros cemitérios de mulheres vivas, abandonadas à própria sorte, sem visitação e esperança, as mulheres encarceradas passam por dificuldades ainda maiores do que os homens presos, pois necessitam de proteção, privacidade e acesso aos serviços básicos de higiene e ao acesso à saúde. Muitas vezes é dela a responsabilidade pelo filho que ficará sem família enquanto a mãe cumpre pena. Não raro, as mulheres ingressam no mundo do crime a pedido ou por ordem de seus maridos e companheiros, mas são por eles abandonadas quando presas”.
“Não bastasse, muitas mulheres se envolvem com o tráfico de drogas após a prisão de seus companheiros por esse crime, seja porque precisam honrar os compromissos assumidos por eles, para proteção de sua família, seja porque tentam transportar drogas para o interior das Unidades Prisionais em dias de visita”.
E sobre a importância do evento no Conexões Universidade:
“Esse encontro é muito importante. Queria que vocês pudessem contribuir com o fim do preconceito. Vocês podem levar essa mensagem como futuros jornalistas e comunicadores. É um trabalho de formiguinha, mas muito importante, fundamental. Só de vocês conseguirem olhar pra essas pessoas presas como pessoa já muda tudo, porque em geral, para a maioria dos operadores de direitos elas são números, mas ali existe uma pessoa que um dia vai sair da prisão e a questão é: Como vao vão sair e que tipo de apoio podemos dar para que elas mudem?” – completa Dra. Maíra.
Confira como foi: